Leonel Henckes

Minha arte é o meu medo

Carlos Castañeda, citando seu mestre Dom Juan diz: “O guerreiro vai pra guerra com medo, com respeito e com absoluta confiança em si mesmo.”

O medo, esta coisa paralisante que toma conta de todo nosso ser, nos escraviza, nos aprisiona e impede o movimento, o livre fluxo do movimento. O medo. Esse sentimento, essa emoção, esse qualquer coisa que corrói a alma, que gera angústia e estagnação. Esse mesmo medo que me salva, que me contém. Não sei.

Meu medo. Meus medos. Me dou o direito de tê-los e gosto de percebê-los e, mais ainda, enfrentá-los, desafiá-los. Meus medos que aparecem como espaços férteis para a descoberta do novo, do mágico, do surpreendente. Mergulho no manancial do medo e de lá retorno prenhe de novos hieróglifos. Um mergulho arriscado, mas, deveras instigante.

Minha arte. Qual é a minha arte? A expressão poética que deste self emana carece de parâmetros. Minha arte? Não sei. O que expressar? Não sei. O que dizer,  o que fazer? Não sei. Minha arte é meu medo. Qual é o meu medo? Quais são os meus medos? Minhas angústias? A matriz poética de cujo âmago pode ser extraído um símbolo, um algo mágico, um algo a ser decifrado. Que algo é esse? Como saber? Não o conheço, ainda não tem nome. E o medo?

Assim, age o artista. Em caminhos tortuosos e incertos cambaleia a procura de algo que não sabe. De algo que nem sabe como procurar e, dessa forma, constrói o percurso no próprio percurso.