Como podemos parar o retorno ao “normal”?

No início da pandemia do Coronavirus em 2020 e com a parada quase total das ações humanas no planeta, muitos tivemos a impressão de que o lado bom daquela tragédia é que desestruturaria completamente o sistema capitalista neoliberal como o conhecemos em seu poder de crueldade e destruição do humano (no sentido de sua humanidade) e do ambiente. Acreditamos que haveria uma tomada de consciência sobre o fato de o modo como estruturamos a convivência, relações e organizações humanas na terra foi completamente falha e que essa estruturação nos levou a abismos sociais absurdos, a excessos de acumulo de riqueza e capital em detrimento da ausência absoluta de recursos para outras pessoas; que nos levou a condições desiguais de busca por qualidade de vida; que gerou ambientes tóxicos povoados por sexíssimo, racismo, homofobia, xenofobia; que gerou uma degradação em escala dos recursos naturais e consequente destruição do planeta e, finalmente, que adoece mentalmente humanos em todos os cantos.

Tínhamos a certeza de que a pandemia iria virar o mundo de cabeça para baixo e que ao final teríamos reestruturado tudo corrigindo todos esses erros das gerações passadas.

Com a vacinação e consequente redução nos casos, observo, porém, um movimento passivo de retorno ao  “normal” que existia antes. Se observarmos com atenção, perceberemos que nada, absolutamente nada, está mudando exceto o fato de que agora compramos mais online e assistimos aulas em vídeo. Se permitirmos esse retorno passivo e quase ansioso para o “normal” de antes, é como se toda essa tragédia não tivesse nos ensinado nada e tivesse tido utilidade alguma numa perspectiva de aproveitar circunstâncias externas para promover transformações e melhorias.

De algum modo isso revela uma vez mais a facilidade humana em adaptar-se a qualquer circunstância. Nos adaptamos rápido ao isolamento e ao vírus. Agora, talvez por alguma manobra do próprio sistema, nos adaptamos rápido ao retorno ao “normal” de antes. Sequer o tal “novo normal” se tornou uma realidade. Retornamos tranquilamente aos escritórios, começamos tranquilamente a programar viagens para destinos induzidos pela publicidade, voltamos aos mesmos restaurantes, voltamos aos shoppings, voltamos às relações superficiais e indiferentes, voltamos a não ter plantas, voltamos a relaxar com relação ao destino do lixo, voltamos a aceitar passivamente a corrupção, a soberania branca, a falta de oportunidades, os mendigos nas ruas, o racismo estrutural (que agora virou produto e conceito explorado por produtores e empresas brancas no marketing e no entretenimento), voltamos a achar normal o assassinato de LGBTQIA+, a achar excessivo o uso de linguagem inclusiva com pronomes neutros, a achar normal estarmos trabalhando 24h por dia para empresas que pagam pessimamente por 8h e acham que o papinho do propósito compensa o baixo salário.

A pandemia passou, nada mudou e caminhamos como manada ao retorno ao normal de antes seguindo a música proposta pelo sistema que se ajustou, mais uma vez, rapidamente ao contexto e brecou qualquer tentativa de rebelião.

É possível ainda frear o retorno ao normal ou perdemos, como Humanidade, a chance de mudar radicalmente o modo como nos organizamos no planeta?

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