Entre corpos mágicos, impulsos, ações, ações físicas, desejos, vontades, memórias, sonhos, idealizações, nostalgias, angústias, movimentos e suas dinâmicas, dramas, dramaturgias, dramáticos momentos se criam. Estou criando o que chama-se uma poética. Uma poética que define um gosto, um ideal e um programa de arte. Em suma, uma estratégia de fazer e um perfil de o que fazer. Nestes tempos de multiplicidade, de fronteiras dissolvidas, de hibridizações, de metamorfoses procuro minha arte. Achei, que o melhor caminho para isso fosse estar só. Mergulhar no meu processo e buscar a essência. Sim, entendo agora quando Grotowski fala de essência, questiona-se a essência, mas, é exatamente ela que busco. Ele diz mais ou menos assim: gosto da essência porque não tem nada de sociológico e hoje tudo que temos é sociológico, a essência é a única coisa que nos pertence inteiramente. É isso, busco algo que seja singular em meio a tanta pluralidade, embora o meu singular, talvez, seja a soma de aspectos desse plural.
Estou criando uma peça, não sei ainda que peça, nem sei do que vai falar. Sei que é uma peça e que é um solo. Estou sozinho, em cena. Não sei ainda se vou falar, acho tão inútil e desnecessário falar, com a voz. Mas, ainda não sei o que quero dizer. Sei que quero dizer algo, mas, talvez sem voz, tenho que decidir o que. Apostei que tudo isso fosse sair do meu corpo em movimento no espaço. Algumas coisas saem, mas, chega o momento mais difícil, da necessária violência em que é preciso tomar uma decisão. Quando se toma uma decisão, automaticamente se elimina todas as demais possibilidades, surgidas e não surgidas ainda. É cruel.