Diário de Bordo 1º Ensaio 10/07/2009
O que há de novo?
Inicio o primeiro relato de ensaio com a questão que tanto insistiu Paulo Marcio nos trabalhos no Grupo Vagabundos do Infinito. O que há de novo? Entrar novamente sozinho em um sala de ensaio (vazia). Vestir a roupa de ensaio, tomar coragem, respirar fundo e adentrar aquele espaço que subitamente se torna assustador, temeroso. Começar a mover o corpo, o si mesmo, a memória, a energia, estar em ação animando um espaço “morto”. Confrontar-se e desestabilizar as sombras. Sentir-se absolutamente livre, inteiro, com todas as possibilidades que a imaginação pretender experimentar. Estar ator.
A porta se fecha, a respiração acelera, o que fazer? O que irá acontecer nos próximos instantes? Naquele lugar de infinitas possibilidades, onde nada e impossível, o criador é chamado a despertar. O ator, passa a buscar em si o impulso, a vontade e começa se movimentando no espaço vazio.
Comecei o ensaio com um procedimento de aquecimento muito utilizado nas aulas na UFSM, no Vagabundos e no trabalho com Capoeira em 2008. Correr. Acredita-se ser um exercício que precipita as memórias, correr ou caminhar. Uma atitude que sugere “estar a frente”, projetar-se ao infinito. A corrida no sentido anti-horário é bruscamente interrompida com uma mudança de sentido. Organizo o corpo, encaixo o quadril e apenas os metatarsos tocam o solo buscando sempre total leveza. Uma leve tensão se projeta do topo da cabeça para o céu e outra do cóxis para o centro da terra, os ombros pendem-se sem tensão.
A série continua levantando o joelho até a altura da cintura a frente e depois o calcanhar que é tocado com as mãos atrás. Em seguida a mão direita e esquerda intercaladas tocam o chão no lado oposto levando o corpo ao chão, a respectiva perna estica enquanto a oposta retrai. Sigo realizando exercicios com os braços, andar de cócoras, o lagarto e sigo com um deslocamento para normalizar a respiração. Aproveito que o corpo está quente para alongar e soltar as articulações.
Em decúbito dorsal, inicio a série de Thomas Lebhart caracterizada pelo uso de movimentos ondulatórios. Novamente em pé, procuro me deslocar pelo espaço a fim de dinamizar as energias e trabalhar diferentes focos de atenção. Tento iniciar a Dilatação, mas, psiquicamente sinto um enorme bloqueio. Insisto, mas, é mais forte e desisto. Começo a me deslocar pelo espaço trabalhando o tempo-ritmo da caminhada e mudanças de foco. Este trabalho começa a gerar imagens que estímulam um jogo de improvisações a partir de alterações de qualidades de movimento, níveis e direções. A voz começa a tentar sair, permito e em gramelô surgem diversas melodias que passam a guiar ou contrapor os movimentos corporais. Percebo contudo que desisto muito rapidamente da imagem que surge, ou, em outras ocasiões, me prendo a determinada imagem e não consigo transpô-la. Reparo, ainda, que meu corpo sugere um padrão estético que tenho dificuldade de mudar e transpor.
E cedo para levantar possíveis temáticas surgidas no trabalho, mas, destaco sensações que traduzo em: melancolia, fuga, esconder, remexer, rebelhão.