Ator-criador – angústias

Esbarro em pensamentos confusos, pensamentos que trazem consigo um manancial de imagens perdidas em um lugar cujo acesso é dificultoso. Imerso no caos do meu si mesmo almejo encontrar algo que possa servir de alicerce, de base. Busco um “eixo” em torno do qual gravitar.  Meu corpo fala que quer dilacerar-se inteiro, libertar-se do pensamento, libertar-se da própria alma. Impulsos se debatem com força no interior de mim, mas, não deixo se manifestarem.
Nesse emaranhado de dúvidas, incertezas, sinto uma necessidade louca de agir, de intervir, de atuar. O espirito de ator, de artista, quer manifestar-se; quer encontrar a forma ideal, a linguagem, a estética apropriada para externar e comunicar o que se passa aqui dentro. Desestabilizar memórias, estar em movimento, servir a carne, dilacerá-la, rasgá-la, tirá-la de sua existência mundana e passiva, de sua condição material.
Sou ator, digo à mim mesmo. Quero o palco, quero atuar, criar realidades. O que me impede?
O medo, as sombras, a insegurança de entrar em uma sala vazia, branca, e começar a rabiscar despretenciosamente. O medo dos riscos que podem surgir, das cores, das formas. O medo do confronto com o si mesmo. O medo do espelho. De encontrar o lugar em que me torne espectador de mim mesmo. De descobrir o sentido de uma autonomia criativa. De ser criador, ator, atuador, criador de realidades, criador de si mesmo em si mesmo, comunicador do infinito, agente do encontro.
Qual é a minha arte? O ator-criador que está e se basta. Como diz Lecoq, “o ator-interprete é substituído pelo ator-criador, um ator consciente de suas ferramentas expressivas, treinado na linguagem do teatro corporal e maduro para capitanear o processo criativo. O corpo do ator-criador, recriando-se na relação com o espaço, espelha as estruturas do drama, a construção arquitetônica do acontecimento teatral que ele faz efetivar.”
O corpo, matriz criadora singular, território de dramaturgias, de conflitos, de imagens, de poesia  e de sonhos. O corpo que morre, que corrói, que dialóga, que chora. Que é mágico e consciente. Presença. Metafora. O corpo que dança as energias do redor. Corpo que anima o entorno e o si mesmo.
Em meio a angústias de artista, as personas se fundem e já não sei quais os limites.